Nova fronteira da sustentabilidade: do calor dos data centers ao aquecimento de piscinas

Em meio ao crescimento acelerado da demanda por serviços digitais, os data centers se tornaram componentes vitais da infraestrutura tecnológica global. De acordo com o Brazil Data Center Report, o número de data centers cresceu 628% no Brasil entre 2013 e 2023. Dessa forma, esta tecnologia se tornou fundamental para a economia digital atual, possibilitando desde a armazenagem de grandes volumes de dados até o funcionamento ininterrupto de serviços essenciais como clouds, streaming de vídeo, e-commerce e redes sociais. Contudo, esse avanço traz consigo desafios substanciais, especialmente no que diz respeito ao consumo massivo de energia e à consequente produção de calor. 

Os data centers são imprescindíveis para a operação contínua de uma variedade de serviços indispensáveis. Eles permitem o funcionamento de plataformas de comunicação, transações financeiras, armazenamento de dados corporativos e governamentais, e ainda suportam a infraestrutura de serviços emergentes como inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT). Esses centros facilitam as operações diárias das empresas e instituições, além de permitir a inovação e o crescimento econômico.

Com o papel cada vez mais central dos data centers, seu número e capacidade estão em rápida expansão. No entanto, esse crescimento vem acompanhado de um desafio significativo: o consumo massivo de energia e a produção de calor. 

Os data centers, responsáveis por armazenar e processar grandes volumes de dados, são conhecidos por seu consumo energético elevado. Segundo dados divulgados pelo Google, a empresa aumentou em quase 50% as emissões de gases de efeito estufa nos últimos cinco anos, em grande parte por conta dos datacenters que sustentam seus desenvolvimentos de IA. Dessa forma, é urgente a necessidade de encontrar soluções para mitigar o impacto ambiental.

Inovação verde: aproveitando o calor dos data centers

Em resposta a esses desafios, foi desenvolvido um sistema para aproveitar o calor gerado pelos data centers, que atinge temperaturas entre 25 e 30 graus Celsius. Este calor residual é inicialmente utilizado para aquecer serpentinas de água, que são conectadas a uma placa trocadora de calor. O sistema redireciona a energia térmica para uma segunda tubulação de água, aquecendo-a a temperaturas entre 60 e 90 graus Celsius. Esse processo transforma o calor residual em uma fonte eficaz para chuveiros, sistemas de aquecimento doméstico e piscinas.

Um exemplo de destaque com essa tecnologia em ação é a sua utilização nas Olimpíadas de Paris 2024. A comissão organizadora do evento, que se comprometeu a tornar os Jogos o mais verde possível, optou por utilizar esta tecnologia para aquecer as águas do Centre Aquatique Olympique. Essa instalação sediará competições de natação e outros eventos aquáticos, aproveitando o calor dos data centers para manter as piscinas em temperaturas ideais.

Impacto e perspectivas futuras

De modo a ilustrar o potencial dessa tecnologia, um data center de 20 GW pode gerar calor suficiente para aquecer 100 piscinas ou 4.500 residências. Com o consumo global de energia dos data centers previsto para ultrapassar 1.000 TWh até 2026, a reutilização do calor gerado apresenta uma oportunidade significativa para reduzir o desperdício e promover a sustentabilidade.

Assim, o próximo passo é trazer essa tecnologia para o Brasil, onde segundo o monitor Data Center Map, existem cerca de 130 data centers em funcionamento. Implementar essa tecnologia no Brasil não apenas ajudaria a mitigar o impacto ambiental, mas também poderia promover um uso mais eficiente dos recursos energéticos, alinhando-se aos objetivos de desenvolvimento sustentável do país.

A reutilização do calor gerado pelos data centers representa um avanço importante na interseção entre tecnologia e sustentabilidade. De computadores a radiadores, a inovação está conectando os pontos entre consumo de energia e eficiência térmica, refletindo um compromisso crescente com a economia circular e a sustentabilidade.

À medida que a demanda por serviços digitais continua a crescer, soluções como essa serão cada vez mais relevantes para garantir que nosso progresso tecnológico esteja alinhado com a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável. As Olimpíadas de Paris 2024 servirão como um exemplo inspirador de como a tecnologia pode ser utilizada para criar soluções verdes, destacando a importância de iniciativas sustentáveis em escala global.

* Por Severino Sanches, CEO da Agora Distribuidora.

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