Sustentabilidade e rentabilidade: os ISPs na encruzilhada estratégica
Em um cenário no qual a sustentabilidade tornou-se uma exigência global e os custos operacionais uma ameaça direta à rentabilidade, o setor de telecomunicações no Brasil passa por uma transformação silenciosa, mas profundamente estratégica.
Provedores de Serviços de Internet (ISPs) estão adotando medidas para reduzir sua pegada de carbono sem comprometer a expansão da conectividade. Essa mudança ocorre em um momento decisivo, quando o Brasil caminha para democratizar o acesso à internet e, ao mesmo tempo, assumir compromissos mais robustos com a preservação ambiental.
Inclusão digital: avanços e desafios
Nos últimos 20 anos, o número de usuários da internet no país saltou de 32 milhões, em 2005, para 141 milhões em 2024, segundo a pesquisa TIC Domicílios. Isso representa 86% da população urbana conectada.
Nas cidades, a presença da internet nos lares passou de 13% para 85%. Já nas áreas rurais, embora o avanço seja mais tímido, também é expressivo: 74% das residências agora têm acesso à rede. Ainda assim, cerca de 29 milhões de brasileiros seguem desconectados, revelando que o desafio da inclusão digital permanece relevante.
Expansão sustentável: nova prioridade dos ISPs
Com o crescimento da base de usuários, a demanda por infraestrutura de rede aumentou. Isso pressiona os ISPs a expandirem seus serviços. Mas, diferentemente de décadas anteriores, o foco não é apenas cobertura. A sustentabilidade ganhou protagonismo.
Os provedores estão investindo em tecnologia e inovação para reduzir o impacto ambiental de suas operações e, acima de tudo, garantir viabilidade econômica.
Energia: o maior vilão da rentabilidade
A maioria dos ISPs está buscando soluções sustentáveis não apenas por ideologia, mas por necessidade. O alto custo da energia elétrica está comprimindo as margens de lucro.
Subestações, data centers e torres com rádios e ar-condicionado funcionando 24 horas representam uma carga pesada no orçamento. Além disso, o ICMS sobre telecomunicações é um dos mais altos do Brasil, chegando a 30% em alguns estados. Nesse contexto, adotar uma infraestrutura com menor consumo energético tornou-se vital para garantir retorno sobre o investimento (ROI).
ESG como estratégia de crescimento
Financiamentos, incentivos fiscais e acesso a capital estão cada vez mais atrelados a compromissos ambientais, sociais e de governança (ESG). Estar alinhado a esses pilares deixou de ser discurso e passou a ser estratégia concreta.
Provedores que adotam práticas sustentáveis têm mais chances de captar recursos, atrair investidores, firmar parcerias e participar de editais públicos.
Apoio público ainda é tímido, mas importante
O Governo Federal anunciou, até 2027, um investimento de R$ 58,9 milhões em projetos de inovação em telecomunicações. Embora esse valor seja modesto em comparação a países como Estados Unidos, China e membros da União Europeia, a iniciativa visa impulsionar não apenas a ampliação da conectividade, mas também o uso de soluções mais limpas e eficientes.
Soluções práticas adotadas pelos ISPs
A sustentabilidade no setor se traduz em ações concretas. Entre as principais iniciativas estão:
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Migração para energia renovável, como solar e eólica, já utilizada em data centers e torres de transmissão. 
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Instalação de painéis solares em infraestruturas próprias, reduzindo emissões e custos operacionais. 
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Atualização de roteadores, servidores e cabos modernos, com menor consumo de energia. 
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Uso de computação em nuvem, que reduz a necessidade de servidores físicos e otimiza recursos. 
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Integração de redes inteligentes com monitoramento remoto e autogestão, diminuindo visitas técnicas. 
Frotas limpas e reaproveitamento de materiais
A modernização da frota com veículos elétricos ou híbridos ajuda a reduzir os custos logísticos e reforça o compromisso ambiental.
Além disso, o reaproveitamento de equipamentos em bom estado e o descarte adequado dos obsoletos, por meio de logística reversa, demonstram responsabilidade com o meio ambiente.
Monitoramento e transparência como aliados
Sistemas inteligentes acompanham em tempo real o consumo energético e as emissões de carbono. Relatórios de sustentabilidade, antes raros no setor, tornaram-se comuns e ajudam a prestar contas a investidores, reguladores e à sociedade
Conectividade verde: mais do que tendência, uma necessidade
A conectividade verde deixou de ser diferencial para se tornar parte da responsabilidade social e ambiental esperada dos grandes players do setor. Ainda que essa transformação não ocorra de forma homogênea, ela sinaliza uma mudança cultural e operacional irreversível.
Com apoio governamental, pressão do consumidor, avanço tecnológico e uma estratégia firmada nos pilares do ESG, os ISPs mostram que é possível crescer de forma sustentável.
Eles constroem uma infraestrutura com alto ROI, reduzem desigualdades digitais e mantêm o compromisso com o planeta e com a saúde financeira do negócio.
Se o futuro da conectividade no Brasil é digital, ele também precisa ser verde. E 2025 marca um ponto de inflexão nessa jornada.
Por Carlos Bastos, Diretor Comercial e Marketing na Agora Distribuidora.
 
								 
															 
															


